Vícios e as festas de fim de ano
01/12/2025
FESTAS DE FIM DE ANO: A TEMPORADA DE PERIGO PARA QUEM LUTA CONTRA O VÍCIO
Dezembro chega com luzes, canções e uma promessa coletiva de alegria. Mas para quem está em recuperação da dependência química, essa época carrega um peso diferente. Nas salas de grupo da Comunidade Terapêutica Caminhar, novembro já é marcado por uma ansiedade sutil, uma pergunta não dita: "Vou conseguir passar por mais um Natal sóbrio?"
POR QUE O FIM DO ANO É TÃO PERIGOSO?
Não é apenas sobre álcool na ceia ou drogas em festas. É sobre algo mais profundo:
1. A Nostalgia que Engana
As memórias são seletivas. Lembramos dos "Natais felizes" - muitas vezes regados a bebida - e esquecemos as brigas, as ressacas, as promessas quebradas. O cérebro, esperto, nos vende uma versão editada do passado.
2. A Pressão da Alegria Obrigatória
"É Natal, tem que ser feliz!" Essa exigência social pode ser esmagadora para quem está lidando com dias difíceis de recuperação. E para muitos, a substância sempre foi o atalho químico para a "felicidade instantânea".
3. Os Encontros Familiares Não Resolvidos
Aquele tio que sempre te oferece uma cerveja "de leve". A prima que pergunta, com olhar de pena: "Ainda nessa de não beber?" A família, muitas vezes sem maldade, pode ser um campo minado de gatilhos.
O GRANDE EQUÍVOCIO: "SÓ UMA VEZ NO ANO"
Essa é a armadilha mais cruel. A voz sussurra: "É só uma taça de champanhe na virada". O que ela não diz:
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Que uma dose reativa padrões neurais adormecidos
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Que o "só uma vez" costuma virar "só até janeiro"
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Que a recaída raramente é um evento, mas um processo que começa com uma justificativa
"A diferença entre quem recai e quem permanece sóbrio nas festas não é força de vontade. É planejamento."
ESTRATÉGIAS REAIS (NÃO CLICHÊS)
Fora os "apenas diga não", que funcionam tão bem na teoria quanto na propaganda antidrogas dos anos 90. Vamos ao que realmente ajuda:
Planejamento Antecipado:
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Decida ANTES da festa o que vai beber (refrigerante, suco, água com gás)
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Tenha uma resposta pronta para quem insistir ("Estou de antibiótico" funciona, mas "Estou cuidando da minha saúde" é mais honesto)
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Combine um sinal com alguém de confiança para quando quiser ir embora
O Poder da Chegada Tardia e Saída Cedo:
Você não precisa fazer hora extra no sofrimento. Apareça quando a festa já estiver rolando, saia antes das 23h se preciso. Sua recuperação vale mais que a etiqueta social.
Crie Seu Próprio Ritual:
Se o Natal sempre foi sinônimo de bebida, invente novas tradições:
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Ceia de Natal no horário do almoço
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Troca de presentes no dia 24 pela manhã
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Passeio na praia ou parque no dia 25
PARA AS FAMÍLIAS: COMO AJUDAR (DE VERDADE)
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Não transforme a sobriedade em centro das atenções
Nada de brindes especiais "com suco" que destaquem a diferença. -
Ofereça opções interessantes sem álcool
Não basta ter refrigerante. Coquetéis sem álcool, chás especiais, águas aromatizadas. -
Respeite os limites
Se ele disser que vai embora às 22h, não insista para ficar. Isso é apoio real.
A SOLIDÃO DAS FESTAS
Para alguns, o perigo não é a festa, mas a ausência dela. O primeiro Natal sóbrio pode ser solitário quando:
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A família não convida porque "não vai ter bebida"
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Os amigos de uso sumiram
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A solidão parece mais amplificada em dezembro
Aqui, o plano é diferente: voluntariar-se em instituições, participar de encontros de 24h de grupos de apoio, criar uma "ceia alternativa" com outros em recuperação.
O PRESENTE QUE NINGUÉM FALA
Marcela, 3 anos sóbria, compartilhou: "Meu primeiro Natal limpa, chorei escondido no banheiro. Achava que estava perdendo a 'diversão'. Hoje entendo: estava ganhando o maior presente - acordar no dia 26 sem medo de lembrar o que fiz, sem vergonha, sem ressaca moral."
SE VOCÊ RECAIR
Primeiro: respire. Recaída não apaga seu tempo de sobriedade. Não é um fracasso moral, é um sintoma de que algo no seu plano de recuperação precisa ajuste.
Segundo: ligue para alguém. Hoje. Agora. Antes da segunda dose.
Terceiro: lembre-se - janeiro vem aí. E ele também é um recomeço.
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